Largo do Pelicano e Cascata

Largo do Pelicano

e Cascata

Rematam os escadórios três degraus e dois elegantes obeliscos que dão acesso ao largo do Pelicano, requalificado em 2015. Este pátio, antigamente, era denominado de miradouro ou Terreiro de Moisés, o mais belo trecho da arquitetura de jardins existentes em Portugal, um hino aos jardins barrocos.

Denominava-se Terreiro de Moisés porque, outrora, a figura de Moisés erguia-se no topo da cascata da Fénix ou do Pelicano, representando o libertador e legislador de Israel, livrando o seu povo da escravidão no Egipto, quando no êxodo fez brotar, em pleno deserto e, batendo numa fraga, água para acalmar a sede dos fugitivos. A estátua foi retirada do primitivo local para ocupar o cimo de um penedo, na Mãe-de-Água, numa alusão ao milagre, com o gesto de, com uma vara batendo no penedo, fazer brotar a água que alimenta o lago.

A estátua de Moisés, esculpida em 1760-1761, estava anteriormente sobre um penedo que ocupava parte do lugar onde foi erguido o escadório das Virtudes e foi exatamente por causa da construção deste que se demoliu aquele penedo, passando a estátua de Moisés a ocupar o cimo da cascata e fonte do Pelicano. Da base do penedo brotava um veio de água cristalina. Entretanto esta estátua foi uma vez mais transferida, ainda na primeira metade do século XX, para dentro do parque num penedo sobranceiro ao grande lago, onde se encontra atualmente.

Amplo espaço ajardinado e envolvente, de traça elítica, ou pátio circular que separa o escadório das virtudes do adro da Basílica, onde pontifica uma cascata com a figura do Pelicano, que rasga o peito para alimentar os filhos com o próprio sangue. Trata-se de mais um elemento simbólico que nos recorda a Eucaristia, o sacrifício de Cristo: aquele que dá a própria carne para alimentar os demais. Da ferida escorre uma abundante água, que cai em catadupa em três taças semicirculares, e recolhida numa bacia ao nível do solo. Na parede fronteira deste recinto está cravada, portanto, a graciosa fonte do Pelicano, denominada de cascata, onde se impõe a representação de um pelicano, com os filhos à sua volta.

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Fixemos, agora, a nossa atenção na fonte do Pelicano, no centro do terreiro, com planta convexa, formando um nicho central de volta perfeita enquadrado por pilastras rusticadas, encimadas por urnas, tendo, no interior, a representação do Pelicano. O desenho da cascata foi oferecido pelo escultor Jerónimo António da Silva, em 1819, enquanto a figura do Pelicano foi executada pelo mestre José Luís.

Antigamente, com o pretexto de que alimentava as suas crias com a sua carne e o seu sangue, encarava-se o Pelicano como símbolo do amor paternal. Por esta razão a iconografia cristã considera-o símbolo de Cristo.

O belo largo do Pelicano, onde predomina o equilíbrio das proporções e a formosura da composição, é devido ao risco de Carlos Amarante. É um pequeno rossio que antecipa, de forma sublime, a subida para o templo, através de dois lanços de escada em volta de meia espiral. Os recortes elegantes dos dois escadórios simétricos, bem como a fonte central, acompanhada de obeliscos, completam o conjunto neoclássico, recortado elegantemente pelos jardins laterais e frontais.

Este largo foi construído no preciso local onde existiu a capela elipsoidal de D. Rodrigo de Moura Teles. As descrições desta capela falam de uma construção com oito pilastras em contraforte, coroadas por anjos com os emblemas da paixão. Em 1780, a pressão da abóbada deslocou as paredes e pensou-se na construção de um novo templo.

O singular largo é completado por canteiros ajardinados e, em ambas as extremidades, por duas capelas, as mais recentes do conjunto, com grupos escultóricos atribuídos a Fonseca Lapa.

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O Bom Jesus do Monte, referência incontornável.