História

Apresentação

A nossa história

O conjunto monumental do Bom Jesus do Monte, ex-libris da cidade de Braga, é, com certeza, o mais grandioso, o mais majestoso, o mais simbólico e o mais poético sacro-monte construído na Europa, onde predomina a arquitetura religiosa, barroca, rococó e neoclássica.

Desde que a presença humana se fez sentir na colina sagrada do Bom Jesus, a partir do século XIV, se notou a presença dos romeiros movendo-se a pé, pelo elevador ou com precários meios de transporte, tornando esta estância barroca como uma das maiores rotas sagradas, pelo seu valor penitencial, ritual de purificação, romaria, tradição popular, lazer e repouso.

O período após o Concílio de Trento fez brotar os montes sacros espalhados pelas colinas do Piemonte e Lombardia, onde é marcante a influência de S. Carlos Borromeu, grande protagonista da contra reforma, reconhecidos, em 2003, património mundial da humanidade pela UNESCO: Piemonte (Belmonte, Crea, Domodossola, Griffa, Oropa, Orta e Varallo Sesia); Lombardia (Ossuccio e Varese).

Também os montes sacros portugueses, instrumentos para a implementação de um programa de catequese sistemática, se inspiram nas ordenações tridentinas e se enquadram, perfeitamente, na ideia de peregrinação, onde não podem faltar elementos inspiradores: um caminho devocional ao longo das encostas de uma colina, ambiente tranquilo e isolado, a presença de estruturas com uma qualidade monumental, como capelas e fontanários, que são cobertos com esculturas ou pinturas de arte altamente expressiva, cenas que evocam a via-sacra e os diferentes momentos da paixão de Cristo.

A montanha sagrada é um complexo de índole religiosa, uma estância cativante e paradisíaca, um local de fé, uma obra de arte em diálogo com a paisagem e a natureza envolvente, com o objetivo de criar um lugar sagrado que seja uma alternativa a Jerusalém e à Palestina, um espaço onde se reúnem todas as componentes da «via-crucis», fazendo dele um centro irradiador de fé.

No Bom Jesus do Monte a alma revê-se na pedra edificada, o sacro dá as mãos ao profano, o antigo convive com o contemporâneo, a paixão de Cristo vê-se paredes-meias com o escadório, a proteção da natureza procura a compatibilização com o espiritual, o ambiental e o turismo.

O Bom Jesus, referência incontornável da arte barroca em Portugal, apresenta-se revestido de originalidade, proporcionando um autêntico espetáculo visual. O Barroco, mais que um estilo, é um tempo de festa, encantamento, magnificente, eloquente, um itinerário cenográfico, catequético e de sonho, usando até aos limites os sentidos.

O Bom Jesus

Nasce a partir de uma montanha, envolta no simbolismo do encontro idílico com Deus.

Remontam ao século XIV as primeiras manifestações humanas no local, a edificação de uma Cruz e a construção de uma pequena ermida dedicada à Santa Cruz. Com efeito o estatuto da Irmandade da Igreja da Trindade de Braga, datado de 1373, já faz alusão a uma ermida de Santa Cruz, à qual os confrades deviam ir em romagem, como faziam seus antepassados quarenta anos atrás.

O arcebispo Dom Rodrigo da Cunha atribuiu ao arcebispo D. Jorge da Costa II a construção, em 1494, de uma ermida de reduzidas dimensões. Seria, assim, uma segunda ermida. Três décadas depois, em 1522, o deão bracarense D. João da Guarda, em virtude da anterior já não comportar os devotos, mandou reedificá-la e ampliá-la a expensas suas, em cantaria lavrada ao gosto da época, um gótico peninsular, como provam alguns vestígios que chegaram até nós.

Corria o ano de 1629, quando um punhado de devotos bracarenses pensou na fundação de uma confraria, sob a invocação do Bom Jesus do Monte, para reacenderem a extinta devoção à Santa Cruz. É a partir desta data que a encosta ocidental do Monte de Espinho se transforma no Monte Calvário, encas-toado na montanha a leste da cidade de Braga, e se instituiu uma confraria «debaixo da glorioza invocação do mesmo dulcissimo nome do Bom Jesus. Seus confrades com esmolas dos devotos, lucros dos bailes e Passos da Sagrada Escritura nas atividades que se faziam em obséquio do santíssimo sacramento, fizeram quartéis e fundaram pequenitas Capelas dos Passos da Santíssima Paixão de Jesus Cristo, que eram somente nichos muito pequenos, nem mais figuras lhe cabiam pela pequenez das mesmas capelas».

Em 1720, Dom Rodrigo de Moura Teles «o restaurador do Bom Jesus», vendo o estado lamentável a que tinha chegado o templo devido ao quase abandono causado pela administração do Deão Francisco Pereira da Silva, nomeia-se Juiz da Confraria e inicia um processo de reabilitação total da estância: constrói um novo templo no largo do Pelicano, de forma elítica; delineou os escadórios iniciando-os pelo pórtico; as Capelas da Via-Sacra; os Escadórios dos Cinco Sentidos.

Dom Gaspar de Bragança, em 1773, a pedido da Mesa do Bom Jesus, conseguiu, junto do Papa Clemente XIV, que fossem concedidas graças espirituais, com que a Igreja costuma beneficiar os romeiros que visitam os lugares consagrados pela piedade cristã. No mesmo ano, o Papa expedia três Breves, concedendo aos peregrinos e romeiros do Bom Jesus um Jubileu, com graças e privilégios.

Com a afluência extraordinária de devotos, de esmolas e de doações, o templo de reduzidas dimensões, construído em tempo de D. Rodrigo de Moura Teles, tornara-se, agora, pequeno, não respondendo ao elevado concurso de gente.

Projetou-se, então, uma nova construção, não só pelas razões expostas, como também porque a existente ameaçava ruína.

O plano seria assumido pelo arquiteto Carlos Amarante, homem da confiança e da corte do Arcebispo de Braga D. Gaspar de Bragança. A primeira pedra seria colocada, no dia 1 de junho de 1784, coincidindo com a tradicional festividade e romaria do Espírito Santo.

Este monte santo, de influência direta dos santuários da Europa central e italianos, é constituído por uma enorme escadaria, subindo em ziguezague, ligando várias ermidas de planta centralizada, construídas em épocas distintas, onde se integram os vários passos da Via Sacra, compostos por figuras de vulto, algumas de carácter popular, pontilhada de fontes com símbolos astrais e alegóricos, por terreiros onde se congregam várias ermidas, estatuária, fontes e, no topo, a Igreja neoclássica, de planta em cruz latina.

Desde sempre, e na sua génese, o Bom Jesus se apresentou como um santuário de peregrinação, tornando-se no séc. XIX, o maior centro de peregrinação em Portugal. O Bom Jesus do Monte, a «Nova Jerusalém», o lugar da «Cruz» e da Paixão de Cristo, é, por isso, um oceano de sugestões para uma visita, desde o património ímpar do conjunto monumental até à luxuriante vegetação da elevação, que alberga não só um dos mais emblemáticos santuários cristológicos portugueses como também uma das obras-primas do barroco nacional.

O Bom Jesus, referência incontornável da arte barroca em Portugal