Franciscanos decisivos na devoção à Cruz no Bom Jesus do Monte

 

O historiador Aurélio de Oliveira desmontou ontem, no Bom Jesus do Monte, determinadas convicções relativas às origens das representações pictórias e plásticas presentes no santuário bracarense, sublinhando a importância dos franciscanos na expansão da devoção à Cruz.

O docente da Faculdade de Letras da Universidade do Porto apresentou argumentos científicos que comprovam o papel decisivo das ordens mendicantes, constituídas por franciscanos e dominicanos, «no desabrochar desta forma devocional nos “Sacri Monti“».

O membro da Academia Portuguesa de História sugeriu mesmo que «é necessário “checar” as fontes documentais» para não se apresentar mecanicamente a Queda de Constantinopla, o Concílio de Trento e as ações de Carlos Borromeu e Frei Bartolomeu dos Mártires como fatores decisivos e originários do devocionário popular.

Na palestra “Os Montes Sagrados – Dos Sacri Monti ao Bom Jesus do Monte. Entre Mitos e Realidades“, Aurélio de Oliveira explicou que, «com os franciscanos, aparece um Cristo humano, um Cristo sofredor» e que «a difusão das imagens da Cruz e do Calvário» só foi possível graças a este grupo de religiosos que se movimentavam no século XV «perfeitamente à vontade».

«As viagens eram realizadas ou por abastados, ou por mendicantes», referiu o historiador, retirando a Itália da origem geográfica das representações pictórias presentes no Bom Jesus do Monte.

Para Aurélio Oliveira, a Alemanha teve papel preponderante neste aspeto. «Os primeiros Sacri Monti aparecem nas cidades alemãs de Augsburgo e Nuremberga, e nas cidades espanholas de Córdoba e Granada», disse o responsável, sustentando que os contactos portugueses de cunho económico «eram muito mais fortes com a Alemanha do que com a Itália».

A palestra de ontem, organizada pela Confraria do Bom Jesus do Monte, pretendeu ponderar afirmações correntes acerca desta questão quer devocional (Calvários), quer da sua expressão plástica ou mimética a partir do “modelo italiano”.

A confraria bracarense tem realizado mensalmente sessões de esclarecimento e aprofundamentos históricos e culturais relativos ao Santuário do Bom Jesus do Monte. Os responsáveis têm previstas 12 sessões temáticas, «um desafio conjunto com os participantes, equacionando até que ponto nos podemos mover por entre alguns “mitos” e efetivas realidades históricas e materiais como devocionais».

 

Diário do Minho