Bom Jesus do Monte precisa de guias para decifrar símbolos do século XVIII

 

O professor da Universidade de Coimbra Rogério de Sousa sublinhou ontem que «para detetar os elementos simbólicos introduzidos no complexo do Bom Jesus do Monte por D. Rodrigo de Moura Teles (arcebispo de Braga de 1704 a 1728) é necessário um guia».

O investigador, que proferiu, no auditório do Hotel do Elevador, a conferência “O complexo setecentista do Bom Jesus do Monte – reorganização e plano simbólico“, avisou que, «à primeira vista, não é fácil [identificar esses elementos] porque o sucesso que o complexo teve com a estrutura arquitetada pelo prelado bracarense foi tal que obrigou a uma ampliação no final do século XVIII».

«A última fase de construção teve em conta a estrutura simbólica e a narrativa construída por D. Rodrigo de Moura Teles. Porém, também é verdade que a maior parte dos elementos originais foram perdidos», lamentou o especialista à margem do ciclo de conferências retomado ontem, depois do período de férias de verão.

«Hoje o complexo está formatado pela remodelação neo-clássica. Só com uma investigação mais aprofundada é que se consegue perceber o que é original e o que foi substituído», disse Rogério de Sousa ao Diário do Minho.

Para o historiador, importa «estudar a reconstituição do complexo original de D. Rodrigo Moura Teles, que hoje é difícil de distinguir devido à destruição concretizada ao longo do século XIX», e «tentar compreender a simbólica que o prelado idealizou, que envolve a conceção do monumento como uma via-sacra, onde pontificam as fontes, os símbolos mitológicos e alquímicos».

O monumental itinerário arquitetónico e devocional «tinha uma função importante enquadrada na simbólica da Paixão».

Esta visão, poucas vezes referida, foi aprofundada ontem pelo investigador, que contextualizou a análise: trata-se de «um período de pós-Restauração e de um arcebispo originário da aristocracia, animada por ideais utópicos de restauração que transcendem o aspeto político, que tem a ver com a renovação do mundo».

 

Diário do Minho