Escadório dos Cinco Sentidos

Escadório dos Cinco Sentidos

Na legenda do mapa de Carlos Amarante, já citado, somos confrontados com um pequeno resumo deste soberbo e barroco escadório: «que se adorna com quinze estátuas e seis fontes. A primeira é a das cinco chagas, as seguintes representam os cinco sentidos. Formam-se em figuras de meio relevo lançando água pelos sentidos respetivos. Corresponde a cada lanço da escada uma fonte e a cada fonte uma estátua em cima e duas dos lados. Cada estátua é alusiva à fonte, a que pertence».

No Terreiro e Patamar das Chagas nasce o Escadório dos Cinco Sentidos, obra opulenta e harmoniosa de linhas, mandado construir nos princípios do século XVIII, pelo arcebispo de Braga D. Rodrigo de Moura Teles, mas concluído posteriormente à sua morte, ocorrida em 4 de setembro de 1728. Apresenta, nos parapeitos, um conjunto grandioso de estátuas de pedra representando personagens bíblicas do Antigo Testamento e, nos patamares centrais, cinco fontes alegóricas, brasonadas e com ornamentação rocaille.

A escadaria dos cinco sentidos tem início junto da fonte das Cinco Chagas, ou fonte das Cinco Correntes. Seguem-se as cinco fontes alegóricas a cada um dos sentidos humanos, em estilo rococó, que ali se erguem majestosamente em alto-relevo, lançando água pelos órgãos respetivos do sentido que cada uma representa e com figurações onomásticas de animais, na medida em que tudo o que é sensorial é do domínio do reino animal.

O peregrino-turista-visitante adapta-se facilmente à beleza do ambiente desta via-sacra através de uma porta de ligação: os sentidos. Por meio deles, o homem apercebe-se facilmente do carácter sublime desta colina sagrada; embrenha-se no ambiente que o rodeia e interage com ele de modo a jamais esquecê-lo; integra-se perfeitamente na melodia da natureza, no discurso da água jorrando nas cascatas, nas fontes e nos lagos.

Nesta escadaria recordamos as mãos, as ideias que lavraram e temperaram as formas e emoções do granito. Muros, escadas, parapeitos, plintos, colunas, nichos, obeliscos, esculturas, brasões, tudo se materializou na pedraria da região.

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O Escadório dos Cinco Sentidos evoluiu, a partir de um eixo simétrico, ziguezagueando para lanços duplos e linhas divergentes que sobem para pátios laterais, convergindo para patamares comuns e centrais adornados com fontes alegóricas e heráldicas que sussurram perante as estátuas graníticas sobre os parapeitos inspiradas na bíblia.

Dividido em cinco lanços iguais, cada um deles com uma escada com dois lanços, também, iguais, com nove degraus cada.

Cada corpo da escadaria tem uma fonte, três estátuas em triângulo (uma ao meio e duas dos lados) e pilastras onde assentam pirâmides ou urnas. Os terreiros estão sustentados por muros de alvenaria, rebocados e pintados de branco, com pilastras de cantaria granítica.

Consideramos o escadório uma alegoria ao corpo humano. Tudo o que é sensorial é do domínio do reino animal e serão sempre animais a exemplificar nas várias fontes as capacidades de cada sentido. Como dizia Aristóteles, não se chega ao intelecto, sem antes passar pelos sentidos.

Como veremos pela sucessão de fontes, o discurso é organizado como um caminho do menos para o mais, do exclusivamente sensorial para o intelectual e místico, da maior ilusão fornecida (o olhar) para a total desmistificação que só o tato pode fornecer.

As estátuas deste escadório devem-se a um donativo atribuído à confraria pelos Jesuítas, após um litígio havido com os oratorianos.

Originalmente existiam esculturas com nomenclatura pagã e mitológica no escadório, o que gerou algumas polémicas a ponto de, em 1774, um edital obrigar a confraria a rebatizar com nomes de outras figuras bíblicas alegóricas e novas inscrições. Desta forma, Argos passou a ser Vir Prudens, Orfeu em Idito, Jacinto em Vir Sapiens, Ganimedes em José e Midas em Salomão e, como veremos para a frente, estas personagens provavelmente farão mais sentido.

Em todas as fontes estão gravados os castelos do brasão do Arcebispo D. Rodrigo de Moura Teles, à exceção do olfato que tem representada uma esfera armilar.

O Bom Jesus do Monte, referência incontornável.