Lago, Jardim
A cerca ou mata do Bom Jesus do Monte, bem romântica e frondosíssima, sempre constituiu um refúgio para os amantes desta estância.
O visitante, neste pitoresco e paradisíaco lugar, enlevo para o espírito, pode gozar de múltiplos motivos que convidam ao descanso e à meditação: a diversidade e raridade das suas espécies de árvores; a vegetação que pulula (urzes, musgos, heras); os retiros amenos; o denso bosque; as sebes rústicas; as grutas; a água rompendo por toda a parte em catadupas; as fontes que jorram; as ruas, caminhos e veredas; os mirantes sobre penhascos; os quiosques; os belvederes; as pontes rústicas; os viveiros de plantas; as correntes de água que se despenham ou saltam ruidosas por entre as fragas; os lagos esbeltamente talhados com seus barcos de remos; os altos taludes revestidos de árvores, arbustos e flores.
A água é um elemento primordial do desenvolvimento humano e é fonte de vida. No Bom Jesus do Monte, a água que corre das fontes é considerada, como diz S. João «Flumina de ventre eius fluent aquae vivae».
Os diferentes motivos da mata, o lago, os quiosques, as pontes, os caramanchões, as grutas, denotam verdadeira influência de França, onde não são estranhos os livros franceses existentes na biblioteca, nomeadamente, Guide Pratique du Tracé et de L’Ornementation des Jardins d’agrément, par Théodore Bona, 4.ª ed., Paris, Eugéne Lacroix éditeur, com 238 figuras, onde muitos pormenores se encontram na mata.
A 27 de janeiro de 1806, o Estado vai oferecer ao santuário os terrenos baldios que envolviam a estância. A partir do ano de 1877, uma comissão chefiada por António Brandão Pereira vai traçar um primeiro plano para a construção de um parque e de um lago. Traçou-se o plano de arruamentos e caminhos, plantaram-se árvores (cedros, carvalhos, sobreiros), arbustos e camélias.
Daí a existência do lago, ampliado em 1908, graças ao empenho e interesse de Bernardo Sequeira, prolongando para sul até junto de uns penhascos do qual brota a água para o lago.
Por todo o parque, e à sombra de velhas e frondosas árvores, encontramos mesas e bancos para as merendas, coisa que não pode desprezar-se após uma caminhada.
O Bom Jesus do Monte apresenta um ordenamento dos seus espaços externos bastante elaborado (percursos claramente traçados, miradouros, jardins, cerca, adro); os espaços construídos são delimitados por jardins formais e, no plano posterior, por mata, zona dos escadórios, ou simplesmente por mata e outras áreas.
As árvores que a compõem, em especial em torno da área construída e no parque situado acima do santuário, foram maioritariamente introduzidas pelo seu valor visual. Ainda em relação à mata é de mencionar a sua pré-existência, relativamente ao santuário.
Desde o Pórtico até à Mãe-de-Água, a poesia solta-se, paira no ar, emerge de cada retiro misterioso, no saudoso recinto, no doloroso martírio, em cada cântico de amor, no romance do bosque, no balanço da folhagem, no património natural e edificado, nos tapetes de verdura, no murmúrio das fontes, na piedade dos devotos. É um lugar de espiritualidade e de poesia. Tudo nos motiva para a inspiração.