Capela da Coroação
Em 29 de dezembro de 1735, a mesa da confraria decidiu reformar as três figuras, obra do escultor bracarense Evangelista Vieira, da capela oitavada e brasonada da Coroação, cujo interior foi descrito por Carlos Amarante, em 1789, desta forma: «Jesus a ser coroado de espinhos pelos soldados e judeus, um cuspindo-o e oferecendo-lhe a cana por zombaria».
A simbologia da coroa, de punição, tortura e humilhação, conduz-nos para a expressão do sofrimento de Jesus, marcada pelos olhos negros e profundos.
No topo frontispício da capela visualiza-se a inscrição: «EXIVIT IESUS PORTANS CORONAM SPINEAM», traduzida por «Saiu Jesus trazendo a coroa de espinhos».
Ao observar o interior, para além de visualizar três imagens, Cristo despido e manietado e dois rebeldes hebreus, podemos ler: «Os algozes continuam a tratar o Bom Jesus com escárnio e crueldade. Agora, no pretório de Pilatos, depois de o cobrirem com uma velha capa de púrpura e de Lhe colocarem na mão uma cana, à maneira de cetro, tecem uma coroa de espinhos e apressam-se a cravá-la na Sua Santíssima cabeça. Com este tormento, novos jorros de sangue descem pelo rosto do Senhor. O Bom Jesus já tinha sido martirizado em todas as partes do Seu corpo divino; só faltava a Cabeça que, conforme representa esta capela, o foi de maneira dolorosa!».
Colocada estrategicamente ao longo do percurso ascensional, a fonte de Saturno, ou Cronos na mitologia grega, tem por alegoria um braço sustentando uma foice, símbolo do tempo.
Nas festas Saturnais da antiga Roma, representavam-se os chefes a servirem os seus escravos. Ora, na cena da coroação o mesmo se verifica. Ou seja, é o Cristo, o rei, que se humilha perante os seus servos.
Esta fonte está, portanto, em íntima harmonia com a cena que se representa na capela vizinha, pois ali Cristo está numa atitude impotente diante dos escárnios que lhe são dirigidos.